Presidente informou a ministro da Justiça que trocaria atual diretor, Maurício Valeixo, indicado por Moro em 2018. Ex-juiz resistiu e disse que pediria demissão da pasta.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou nesta quinta-feira (23) ao presidente Jair Bolsonaro que deixará o governo se o diretor-geral da Polícia Federal for demitido, segundo informaram as colunistas do G1 e da GloboNews Cristiana Lôbo, Andreia Sadi e Natuza Nery.
A reunião com Sergio Moro foi o primeiro compromisso na agenda oficial de Bolsonaro nesta quinta, às 9h. O presidente comunicou a Moro que pretende substituir o delegado Maurício Leite Valeixo do comando da PF.
Oficialmente, a assessoria do ministério nega que Moro tenha chegado a pedir demissão, mas não comenta as divergências entre o ministro e o presidente. “Ministro não confirma o pedido de demissão”, informou a assessoria.
Questionado por apoiadores no fim da tarde, ao chegar à residência oficial do Palácio do Alvorada, Bolsonaro não respondeu.
Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, deu o assunto por encerrado. “A pergunta sua é por causa dessas notícias que estão correndo? Vou te responder simplesmente o seguinte: a assessoria do ministro Moro já desmentiu a saída dele agora do governo, tá? Já está publicada essa informação”.
Até a última atualização desta reportagem, tanto Moro quanto Valeixo permaneciam nos cargos.
O conflito
Relatos obtidos pelo blog da jornalista do G1 e da TV Globo Andréia Sadi indicam que não houve uma justificativa clara apresentada para a substituição. Segundo esses relatos, o problema para Bolsonaro não é Maurício Valeixo, e sim o próprio ministro.
A intenção, segundo interlocutores, seria colocar na PF um nome próximo do presidente. O atual diretor-geral é visto como um “braço direito” de Sergio Moro na pasta. Com a troca, a avaliação é de que o sucessor não teria um perfil similar.
Valeixo foi superintendente da PF no Paraná durante a operação Lava Jato, quando Moro era juiz federal responsável pelos processos da operação na primeira instância. O ministro anunciou a escolha de Valeixo em novembro de 2018, antes mesmo da posse do governo Jair Bolsonaro.
Segundo o blog da jornalista do G1 e da GloboNews Cristiana Lôbo, a intenção do presidente era anunciar o novo diretor-geral da PF já nesta sexta (24).
Após a reunião – e a reação negativa de Moro –, Bolsonaro não comentou o assunto em redes sociais nem deu entrevistas.
Ao escolher Moro para o cargo, em 2018, Bolsonaro havia prometido “carta-branca”, de maneira a que o trabalho do ministro não sofresse interferências. Mas, desde então, Bolsonaro e Moro acumulam divergências.