A visita inesperada do presidente Jair Bolsonaro à sede da Procuradoria-Geral da República (PGR) causou grande desconforto entre integrantes do Ministério Público Federal.
A presença de Bolsonaro no mesmo dia em que soltou uma nota na qual disse esperar o arquivamento natural do inquérito que apura se ele tentou interferir politicamente na Polícia Federal foi interpretada por procuradores como uma espécie de pressão indevida sobre o procurador-geral da República, Augusto Aras. Caberá a Aras decidir se, com base nas informações do inquérito, denuncia Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“O presidente Bolsonaro não foi nada sutil. Num momento em que ele está na mira de uma investigação, deveria ter recato. Foi uma pressão que causou surpresa entre os procuradores”, disse ao Blog um subprocurador da República.
Bolsonaro se convidou, de última hora, para ir à sede da PGR, a pretexto de cumprimentar o procurador Carlos Vilhena, que tinha acabado de tomar posse como chefe da Procuradoria do Cidadão. Lá, o presidente encontrou também o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Integrantes do Ministério Público Federal ouvidos pelo Blog demonstram contrariedade com a visita de Bolsonaro. Para eles, o gesto coloca a própria instituição numa “saia justa”.
Depois da visita, Bolsonaro divulgou uma nota para dizer que não interferiu na Polícia Federal e que acredita no arquivamento do inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar o caso.
“Nunca interferi nos trabalhos da Polícia Federal. São levianas todas as afirmações em sentido contrário. Os depoimentos de inúmeros delegados federais ouvidos confirmam que nunca solicitei informações a qualquer um deles. Espero responsabilidade e serenidade no trato do assunto”, afirmou o presidente em um trecho da nota.