Durante a Feira Agrotecnológica do Tocantins (Agrotins) deste ano, os visitantes puderam conhecer a unidade demonstrativa com plantação de uvas do Instituto Rural do Tocanitns (Ruraltins), na qual após oito meses de experimentação foi constatado que as boas condições de solo, com adubo certo e a alta temperatura ajudam na produção de um fruto com teor de açúcar mais elevado. As uvas produzidas no estado chegam a 22% de açúcar, enquanto que em outras regiões do país, como o sul, o máximo de açúcar da fruta é de 17 %.
Segundo Domício Rodrigues, engenheiro agrônomo e extensionista rural do Ruraltins, o bom do cerrado tocantinense é que a alta temperatura com a grande luminosidade produz uma uva com elevado teor de açúcar, que ao mesmo tempo diminui a acidez do fruto, produzindo uvas mais doces e mais saborosas.
“Aqui, como a gente não tem um período frio, que é quando a videira entra em dormência, a gente tem até duas safras. Duas safras e meia por ano, pois o produtor consegue fechar um ciclo, dá um período de descanso de uns 30 a 40 dias e, em seguida, já pode começar um novo processo, trazendo grandes vantagens com relação à produtividade anual”, enfatizou Domício Rodrigues.
As uvas em demonstração da Ruraltins eram da espécie BRS Núbia de coloração preta, com alto teor de açúcar; BRS Vitória, bastante doce e de alta produtividade; e a Itália melhorada, variedade da casca verde. Ainda foi apresentada a uva Isabel Precoce e a Rede Globe.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Uva e Vinho, João Dimas Garcia, fala que é importante ressaltar que a alta temperatura é muito boa para a produção de uvas de mesa e suco, mas a produção de vinhos finos exige uma temperatura mais noturna.
“A produção de açúcar nas uvas depende de calor [não muito exagerado] e muita insolação, principalmente quando as plantas estão bem nutridas e sadias. Por essa razão, a condição climática do cerrado tocantinense é muita boa para a produção de uvas de mesa e de sucos. O mesmo não pode ser afirmado para as uvas finas de vinhos finos, isto porque estes tipos de uvas precisam de temperaturas noturnas amenas e diárias não muito altas, para favorecer a expressão da cor e dos aromas”, destacou o pesquisador da Embrapa.
Produção da uva no Cerrado Tocantinense
Para o pesquisador da Embrapa, João Dimas Garcia, sem dúvida, o cerrado é apto ao cultivo da uva, mais há um trabalho há mais de preparo do solo para fazer algumas correções.
“O solo do cerrado precisa ser corrigido com calcário dolomítico ou magnesiano, com fósforo e boro. Os produtos devem ser aplicados na área toda a lanço e incorporados a pelos menos 20 centímetros de profundidade. Como o solo do cerrado tem baixo teor de matéria orgânica, recomendamos aplicar 50 toneladas por hectare em covas pelo menos 60 dias antes do plantio ou 25 toneladas de esterco de galinhas”, explicou João Dimas.
Em Lagoa da Confusão, o produtor rural Nereu Zorzin, gerente da Fazenda Slongo, explica que há mais de 10 anos a propriedade iniciou com experimentos para a produção da parreira, e a correção do solo foi um dos problemas encontrados, pois o cerrado é poroso e a adubação tem que ser feita constantemente, a cada 20 dias ou mensalmente. Ainda assim, o produtor ressalta que esse problema tem solução e os frutos colhidos são compensatórios.
“No final do mês de maio, iniciamos a poda das parreiras, e no máximo em quatro meses, chega à melhor produção do ano que é a época da seca, quando a planta fica praticamente livre de doenças e chega à sua carga máxima de 15 a 16 toneladas só nesta época da seca, em apenas um hectare. Já na época das chuvas é reduzida”, pontuou Nereu Zorzin.
Além de produzir até 16 toneladas de uvas, a fazenda também processa a fruta no local, fazendo doce de uvas, geléia e suco natural, todos com alvará de licença sanitária. A produção de uva e seus derivados são distribuídos em Palmas, Gurupi, Lagoa da Confusão, e na própria Fazenda Slongo com uma lojinha que fica dentro de uma pousada.
Variedades de parreiras para clima tropical
Apesar de ainda ser escasso o estudo sobre as variedades de grupos de parreiras que se adaptam ao Tocantins, algumas cultivares já obteve sucesso em produção como: O grupo Itália e suas mutações (Rubi, Benitaka, Brasil, Red Meire, Itália Muscat ou melhorada) que são produtivas, mas requerem uma alta demanda de fungicidas e de mão de obra. Em outras condições, há também a Rede Globe que demanda pouca mão de obra mais é extremamente sensível às doenças fúngicas.
Necessitando de menos mão de obra e fungicida, há a uva BRS Núbia (preta de bagas enormes com sabor neutro e tolerante à principal doença da videira, o míldio) e a uva Niágara Rosada, nas quais ambas têm boa aceitação dos consumidores, proporcionando bom retorno econômico.
Recentemente, a Embrapa lançou duas novas variedades sem sementes, a BRS Vitória e a BRS Isis, ambas cultivares se adaptam bem às condições climáticas do estado do Tocantins.
Algumas uvas estrangeiras também se adaptam bem ao clima tropical brasileiro, mas o cultivo só é permitido por contratos de licenciamento e pagamentos de royalties.
(Colaborou: Helô Barsi)