Moradoras de Gurupi (TO), Araci nasceu em Atibaia (SP) e Tainá em Itaboraí (RJ). Uma grande amizade nasceu a partir de encontros na feira local, onde descobriram afinidades culinárias, em especial a paçoca, o beiju de mandioca e o bolo de milho. Amantes da natureza, passaram as últimas férias em Arapiraca (AL), pescando piabas e lambaris. Medo mesmo, só de jacaré e sucuri.
O parágrafo acima mostra como nossa cultura é influenciada por heranças indígenas que muitas vezes passam despercebidas. Em três frases há 14 referências, desde os nomes das cidades localizadas em estados distintos, passando pelas iguarias culinárias, animais e os nomes das personagens: em Tupi, Araci significa “a mão do dia” e Tainá é a designação para “estrela” em Tupi-Guarani.
Porém, toda a riqueza cultural e o volume de conhecimentos tradicionais ofertados pelos povos originários do Brasil ainda precisam ser reconhecidos. “O preconceito sempre foi e continua sendo o principal desafio a ser ultrapassado, para que a sociedade brasileira respeite o imensurável legado dos povos indígenas à genética e à cultura brasileira, sem contar a imensa contribuição desses povos para a preservação do meio ambiente em nosso País”, defende o indigenista aposentado e escritor Fernando Schiavini.
Em nível nacional, a tarefa tem dimensões continentais. Segundo o último relatório do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), o País possui 502.783 indígenas na zona rural e 315 mil habitando zonas urbanas. Dos 5.570 municípios brasileiros, 827 registram localidades indígenas. Dessas, 632 são terras oficialmente delimitadas. No total, são 305 etnias reconhecidas, com 274 línguas distintas.
No Tocantins, estima-se uma população de 16 mil indígenas, distribuídos entre as etnias Karajá, Xambioá, Javaé (que formam o povo Iny), Xerente, Apinajè, Krahô, Krahô-Kanela, Avá-Canoeiro (Cara Preta) e Pankararu. A preservação da língua e tradições culturais varia conforme cada povo e histórico de sobrevivência.
Para o secretário de Cultura e Turismo do Estado, Hercy Filho, o dia 19 de abril não deve ser lembrado como uma data festiva isolada, mas como um momento de reflexão sobre a realidade dos nossos povos originários. “Precisamos nos manter atentos à formatação de políticas públicas que garantam a sobrevivência dos indígenas tocantinenses, não apenas cultural, mas também econômica e social”, reflete o gestor.
A interlocução entre Sectur e as etnias indígenas tocantinenses é uma das ações de continuidade realizadas pela Pasta. No último mês de março, o secretário esteve com representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (Arpit), entidade que representa as nove etnias do Estado, no intuito de desenvolver projetos culturais e turísticos em parceria com as etnias.
“Aguardamos o mapeamento de potencialidades entre as etnias que está sendo realizado pela entidade para discutirmos ações em parceria”, ressalta o gestor, lembrando que o Governo do Estado também apoia a participação indígena em feiras de artesanato nacionais e foi responsável pela elaboração de edital que proporcionou a realização de vários projetos com recursos da Lei Aldir Blanc.
Além disso, a Sectur marca presença nas atividades alusivas à inauguração da Casa de Cultura da Aldeia Porteira Nrõzawi, na Terra Indígena Xerente, a cerca de 20 km de Tocantínia, nesta segunda e terça-feira