Por Gabriela Rodrigues Inthurn (CRP 12/18138) | Psicóloga Clínica e Coordenadora do curso de Psicologia na UNIASSELVI Guaramirim
As festas de fim de ano, tradicionalmente associadas a celebrações e momentos de união, podem, paradoxalmente, trazer à tona sentimentos de angústia, solidão e ansiedade. Para muitas pessoas, essa época funciona como um gatilho emocional, especialmente para quem enfrenta questões como luto, dificuldades financeiras ou isolamento social e/ou familiar. Como psicóloga, acredito que é essencial abordar o impacto dessa época na saúde mental e compartilhar estratégias para enfrentá-la de maneira mais saudável e equilibrada.
A pressão social para demonstrar felicidade, reunir familiares e vivenciar experiências “perfeitas” pode gerar um desconforto significativo. As redes sociais intensificam essa sensação ao apresentarem vidas aparentemente ideais, levando muitos a compararem suas realidades. Um exemplo, são as publicações de momentos felizes e realizações do ano com o texto “como eu vou ser triste, se…” podendo levar a comparações entre as realizações e conquistas do ano entre cada pessoa.
Para quem vive um luto, a ausência de um ente querido torna-se ainda mais palpável nas reuniões familiares. Já para quem enfrenta dificuldades financeiras, o consumismo que permeia as festividades reforça sentimentos de inadequação. Para quem enfrenta conflitos familiares pode ser uma época também difícil devido ao contato, cobranças e obrigações sociais que o período pode impor.
É importante lembrar que esses sentimentos não são sinais de fraqueza, mas sim respostas humanas a situações desafiadoras. Reconhecer e validar o que sentimos é o primeiro passo para cuidar da saúde mental nesse período.
Sentir tristeza, ansiedade ou frustração é natural. Permita-se vivenciar essas emoções sem se cobrar por estar sempre bem. A aceitação é um recurso poderoso para aliviar o peso emocional. Se permita vivenciar e respeitar seus limites.
Não se sinta obrigado a atender a todas as expectativas. Caso convites ou eventos causem mais desconforto do que prazer, permita-se dizer “não” e priorize atividades que façam sentido para você. Se for possível, relaxe e tente descansar para se recuperar do estresse do ano.
Repense o significado das festas. Se as comemorações tradicionais não ressoam com sua realidade atual, busque alternativas. Pode ser uma caminhada ao ar livre, a leitura de um livro especial ou até um jantar simples e íntimo consigo mesmo ou com amigos próximos.
Mesmo que a solidão pareça inevitável, procure redes de apoio. Amigos, grupos religiosos ou até iniciativas comunitárias podem ser fontes de acolhimento e pertencimento.
Alimente-se bem, respeite seu sono e mantenha uma rotina de exercícios físicos. Essas práticas simples têm impacto significativo no bem-estar mental e emocional.
Caso os sentimentos de tristeza ou ansiedade se tornem intensos ou persistentes, buscar apoio psicológico é fundamental. A terapia pode oferecer ferramentas para enfrentar esses desafios e ressignificar experiências difíceis.
As festas de fim de ano são uma oportunidade para olhar para dentro, avaliar as emoções e construir um espaço de acolhimento interno. Nem sempre será possível transformar o período em algo plenamente feliz, mas é possível torná-lo mais leve e significativo ao respeitar nossos limites e buscar formas de autocuidado.
Lembre-se: cuidar da saúde mental não é um ato egoísta, mas um gesto de amor-próprio. Afinal, para enfrentar os desafios da vida — sejam eles sazonais ou contínuos — é essencial nos darmos a oportunidade de estar bem com quem somos e com a nossa jornada e é uma ótima sugestão de presente para você mesmo